Análise do DNA da Península Itálica PARTE I

 

por Felipe Schmidt Santa Catarina 

 Os Italianos da Idade do Ferro:

  Os povos que formam a península Itálica são originados, inicialmente, das invasões da península por grupos Bell Beakers, oriundos, sobretudo, da Europa Central, destacando-se os grupos Bell Beakers Orientais(da atual Hungria, Rep Tcheca e Elba Alemão), grupos Alpinos(da atual Suíça, Sul da Alemanha e Austria) e alguns grupos Renanos e do Norte, carregando consigo as línguas Indo Europeias, o Patriarcado, a domesticação dos cavalos e todos os demais avanços das povoações estepicas. Portavam, fundamentalmente, o haplogrupo R1b-U152 e algumas clades de J2,Ev-13 e I2a2. Os Bell Beakers italianos, assim como os ibéricos, da idade do bronze, introduziram príncipios de patrelinearidade e patriarcado, adotando, todavia, as tradições línguisticas originárias dos povos neoliticos habitantes da península, tal como a cultura de Remedello, dando origem ao que, posteriormente, veio a ser a cultura Rassenica, ou Raeto-Etrusca, tal como fez-se na península ibérica, em virtude de sua desvantagem numerica, ante as já populosas civilizações neoliticas locais,tornando-se a elite governante, que absorvera e fora absorvida pelas práticas e costumes mediterrâneos. Eram portadores do haplogrupo R1b-U152, principalmente de clades R-Z36 e algumas variantes do R-L2.

  Entre os anos de 1300-1000 antes da Era Comum, acredita-se que as línguas italicas tenham sido introduzidas no território da península, algumas hipóteses atribuem à migração de povos da cultura Urnfield, associados à cultura Tumulus, aos Bell Beakers Orientais, Boreais e grupos Alpinos, e à cultura Unetice(em momentos mais anteriores), todavia há uma ausência de evidencias arqueologicas sobre tal migração. Muitos sustentam a idéia de que, por dispersão  cultural, a língua italica possa ter se originado no norte da península, em descendentes dos grupos Bell Beakers Italianos, outros já argumentam de que, apesar dos grupos Rassenicos apresentarem evidência línguistica e cultural de fortes influências pré Indo Europeias(muito embora, em larga escala, deva-se ressaltar características fundamentais, como o patriarcado, a metalurgica do bronze, o panteão de divindades, aos quais foram inegávelmente herdados dos proto indo europeus), existiam grupos no norte e centro da península que preservaram sua língua e que não haviam de ter sido absorvidos, linguisticamente, pelos mediterrâneos pré indo europeus, e que, por consequência, os Italicos seriam, fundamentalmente, descendentes de grupos Bell Beakers Italianos, que preservaram a sua linguagem. Mediante tais constatações, a origem dos povos Itálicos, e qual seu fator diferenciador dos povos Raeto-Rassenicos, ainda permanece nebulosa. 

  Na idade do Ferro, desenvolveu-se, no Norte e Centro da Itália, a cultura Proto-Villanovana, associada aos falantes de línguas proto Indo Europeias. Curiosamente, nesse período, percebe-se a introdução de material genético proveniente dos povos Anatolicos Indo Europeus, tal como Hititas, Troianos, Lydios, Phrygios, devendo-se ressaltar que , coincidentemente, o surgimento de tal cultura é conterrâneo ao colapso da Idade do Bronze, evento que promoveu a dispersão de muitos habitantes das civilizações anatólicas, por toda a bacia do mediterrâneo(mediante a invasão dos povos do mar).

  Em seguida, temos a introdução da cultura Villanovana, já associada aos povos Raeto-Rassenicos, não falantes de línguas proto indo europeias, cujo dna intenta a possuir ainda mais influência anatolica. Posteriormente, temos o desenvolvimento das tribos itálicas, algumas já análisadas, tal  como os Latini e Presentini, e dos povos Raeto-Etruscos. Curiosamente, ao se observar a genética desses povos, percebe-se que correspondem, quase que perfeitamente, à mistura de povos Italicos Bell Beakers da idade do Bronze com componentes significativos de Anatólicos Indo Europeus da Idade do Bronze, e minoritários de Gregos Micenicos, sugerindo uma possível contribuição dessas populações na etnogenesis do povo Itálico e Rassenico.


Os Raeto-Etruscos e Italianos da Idade do Bronze:

  Os povos Raeto-Etruscos foram  uma cultura pré Indo Europeia, constituída de cidade-estados, de avançada civilização, que formou-se na Itália, durante a Idade do Ferro. Tratavam-se de uma sociedade altamente hierarquizada, liderada por uma aristocrácia, de caráter patriarcal e patrelinear, carregando consigo características dos conquistadores proto indo europeus(em organização social), mantendo, todavia, o caráter linguístico, ritualístico e sacerdotal de predomínio pré estépico, isso é, das sociedades matriarcais e matrelineares do neolítico europeu, as chamadas sociedades mediterrâneas europeias. Muitos argumentam sobre a fundação dessa sociedade em virtude de uma colonização anatólica oriunda da colonização lídia, ou de pelasgos, na península(povos estes que eram pré indo europeus em cultura e tradições), todavia, pelo que encontra-se em sua genética, há um predominio do componente Bell Beaker Italiano, da idade do Bronze, com minorias, expressivas, de componentes greco-micenicos. Há , ainda, alguns indíviduos que destoam para fortes influências da Europa Central, assemelhando-se aos Celtas, outros que predominam em componentes pré-estepéticos, de similaridade com Sardos Nurágicos. Em todos os cenários, o que deve-se salientar é o caráter multietnico observado na civilização, com presença de uma imensurável variação, dentre as características genéticas dos "samples" análisados, possuindo, inclusive, indivíduos de genética levantina, possívelmente tratando-se de Fenícios. 

 

 

 Acima temos o mapa de DNA Etrusco(Raeto-Rassenico) encontrado na Península. Deve-se observar seu predomínio na fração norte da península. A motivação, de tal predominio, decorre de uma considerável singularidade de eventos. Em primeiro, por terem os Etruscos e Raéticos, as mais populosas cidades do norte da península, antes mesmo da dominação romana. Em segundo, temos, na Itália, durante o colapso do Império Romano, um número massivo de óbitos, que provocaram uma mudança genética expressiva, nos componentes observados na população. No auge do Império, a  província da Itália possuia uma população de 13 milhões, alcançando apenas 3 milhões após 4 secúlos, resultante de crises alimentares, pragas, guerras e invasões, com tais eventos favorecendo a sobrevivência dos indivíduos que possuiam melhores condições, levando à massiva parte da plebe e das classes escravas à um colapso, sem grande expressividade em descendentes, e fomentando a prevalência das genéticas mais presentes nas altas classes, de patrícios e equestres, que possuiam, fundamentalmente, uma genética mais associada aos povos itálicos da idade do ferro(isso é, Raeto-Rassenicos e Italicos no norte), em detrimento da imensa variedade genética observável nos Romanos Imperiais, que tendia à uma maior conformação de similaridade com os povos do leste do mediterrâneo. Pode-se constatar tal fenômeno em virtude da comparação entre a genética encontrada em Collegno, no norte da Itália, e dos norte italianos modernos,tendo o primeiro uma tendência ao DNA Romano Imperial, similar aos atuais sul italianos, e os segundos, uma maior expressividade dos componentes pré imperiais, o que será abordado , com mais detalhes, ná análise da contribuição romana imperial para a península(e da colonização romana da Itália).

 Outras populações, da península itálica, possuem elevada compatibilidade com o DNA Italiano da Idade do Bronze, tal como os Ligurii e Adriatico Venetii, povos destoantes das qualidades clássicas atribuidas às tribos italicas, tanto em lingua como em elementos da cultura, aspirando à uma origem similar à dos etruscos. Tal como os Bascos e Iberos, na península iberica, os etruscos também descendem de migrações indo europeias, Bell Beakers, todavia em menor quantidade, estabelecendo-se como a elite nobre patriarcal dominante, sem modificar lingua e cultura, e, como na Iberia, onde, descendem, os Lusitanii e Tartesii das primeiras migrações, na idade do bronze, preservando idioma, religião e cultura indo europeia, estabelecida na idade do bronze, diferindo de seus vizinhos parcialmente absorvidos, por representarem uma maioria populacional significativa, também descendem os Venetii e Ligurii de povos da idade do bronze, que preservaram sua cultura e idioma, por apresentarem-se em maior proporção. No final da idade do bronze, as etnias da península dividiam-se em Nuragicos, na Sardenha e Corsica, Gregos Mycenicos estabelecidos em toda a costa adriática e iniciando a povoação da Magna Graecia, a cultura de Terramare, no Norte e Nordeste Italiano, em especial, no vale do Pó, grupos pré-villanovanos estabelecidos na italia central, os Sculi, na Sicilia e Calabria,  e grupos Tumulus ao norte.  

  Levando em consideração o exposto, deve-se lembrar que tal componente pode representar não somente a Ancestralidade Rassena-Raetica, mas também a influência de povos descendentes dos invasores indo europeus da idade do bronze, o que explicaria sua disseminação, por ser o componente primordial da ancestralidade Etrusca, herdada da cultura Villanovana, sem diminuir a relevância das influências greco-anatolicas e fenicias presentes nos Etruscos analisados, nas diferentes cidade-estados da Etruria. Os Bell Beaker Italianos, da idade do Bronze, ancestrais dos Etruscos, Ligurii e Venetii, carregavam, primordialmente, o y-dna R1b-U152-LZ56, formada há 4,400-3,7000 anos atrás, na idade do Bronze, e exclusivamente associada à ancestralidade Etrusco-Romana. O y-dna I2, G2a e Ev-13 eram comuns e presentes, em menores proporções. Alguns J2, T, J1, E-M81, R1b-Ht35 eram, ocasionalmente, encontrados, pelas menores influências de povos do mediterrâneo oriental, ou outras clades de R1b ocidentais, como a Ibero-Aquitana ou a Gaulesa. 





Os Itálicos: Invasores da Idade do Ferro

  Durante o colapso da idade do Bronze, vários grupos, oriundos da Europa Central, iniciaram uma migração para sul, a fim de estabelecer-se em terras mais quentes, em decorrência de um período de rigoroso inverno, que assolava à agricultura, nos planaltos da Europa Central. As tribos da cultura Tumulus emergiriam na cultura Urnfield, ou Cultura dos Campos de Urnas, expandindo-se, por toda a Europa Central, e representando não somente confrontos e povoações, mas um sistema comercialmente transplantado, cujos elementos culturais decorrem não apenas de invasões, mas também, e fundamentalmente, por relações comerciais. 

 

 

As regiões governadas pelo sistema Urnfield emergeriam, e grupos Urnfield, oriundos dos Alpes, adentraram a península e estabeleceram povoações ao longo do Rio Pó e dos Planaltos Alpeninos, na Italia Central, dando origem à duas culturas dispares. O sistema Urnfield representa variações culturais diversas, divergindo deles, na idade do Ferro, grupos como os Lusatian, uma cultura predecessora dos Europeus Orientais, mas os grupos Alpinos, Alemães, Danubianos e Franceses parecem fortemente associados ao surgimento da cultura Celtica Clássica e dos grupos Celticos Continentais e Brythonianos. Os Urnfield, da Europa Central, são os ancestrais da língua Proto-Italo-Celta, adentraram a Italia em meados de 1200-1000 antes da Era Comum, originando dois complexos culturais distintos.

  O Complexo Cultural Gollaseca, que permaneceu intimamente associado ao complexo cultural Alpino e Danubiano, que originaria a cultura Hallstatt, celta clássica, tornando-os parte desse complexo, como ancestrais originários do povo Lepontico, muito anteriormente à invasão dos gauleses de Bellovesus, muito embora a presença Etrusca tenha diferenciado a população remanescente. Os Proto-Villanovanos se envolveram em uma dissociação cultural, ao cercarem-se pelos habitantes originários, já previamente estabelecidos e influenciados pela cultura e genética grega mycenica. Na idade do bronze alguns imigrantes remascentes das cidades costais anatolicas buscaram refugio na península italica. A Epopeia de Eneias, romana, tenta mitificar as influências da origem dos Latinos, todavia, sabe-se que alguma influência greco-anatolica era percebida, tendo em vista os resultados de Latinos, da idade do ferro, analisados, que apresentam fortes influências Tumulus-Urnfield e Anatolicas Indo Europeias, do final da idade do bronze, alem da população Italiana da Idade do Bronze, os habitantes anteriores.

File:Italy Iron Age incineration inhumation.svg 

Villanovan culture - Wikipedia

 

A Cultura Villanovana não possui correlação direta à proto-villanovana, mas sim à Rasseno-Raetica, representando os auctotones sobreviventes, na Italia Central, que constituiram suas cidade estado, aos moldes gregos. A Cultura Latial apresenta influências da Cultura Villanovana, em seus modos de enterro, e representa bem a influência, deixada pelos Raeticos, desde o surgimento das tribos Latinas. As áreas de influência Italica praticavam o sepultamento e representavam a maior parcela do sul, muito embora culturas anteriores e povoações de povos do mediterraneo oriental tenham permanecido, nessas áreas, com sua própria cultura e costumes, destoantes dos povos Itálicos. 


O Mapa acima representa a influência dos povos invasores da Idade do Ferro, descendentes dos grupos Urnfield na península, abstendo a influência Latina presente na genética Romana Imperial. Não apenas dos grupos Proto-Villanovanos, mas os grupos Gollaseca e d'Este(pertecentes ao complexo Celtico Hallstatt) também, como observamos pela influência no Vale do Pó,


O segundo mapa representa a influência Italo-Celtica da península, em especial da cultura Proto-Villanovana, sem desconsiderar a cultura d'Este e Gollaseca, incluindo a influência portada pelos habitantes romanos, do período imperial, que colonizaram toda a península e Europa Ocidental. Os Urnfield, Gollaseca e d'Este possuiam a marcação R1b-U152-Z36, um primo alpino, relativamente distante, da marcação Bell Beaker Italiana, o R1b-Z56, encontrada quase que exclusivamente na Italia e regiões de presença Romana, salvo por sua significante expressividade na Suiça e em toda a região alpina.


 

Outros haplogrupos, em especial o G2a, J2, Ev-13 e I2, eram costumeiramente encontrados nas populações Italianas Urnfield-Derrived, em especial a cultura Proto-Villanovana.


Os Nuragicos: O Refugio da Civilização Mediterrânea 

Os Nuragicos constituiram uma sociedade pré indo europeia, estabelecida na ilha de Sardenha e Corsica, matriarcal, matrelinear, lunar, talassocratica, intimamente relacionada à pirataria, com participações expressivas nos eventos que se sucederam, durante o colapso da idade do Bronze e invasão dos Povos do Mar, tal como os Tartesos, Siculi, Terramare, Mycenicos, Minoicos, etc.. 

Referida como uma sociedade intimamente relacionada à metalurgica do bronze, na peninsula,  com intimas relações comerciais com Fenicios e Gregos, os Nuragicos prevaleceram até a conquista da ilha por Cartago, colonia fenicia, na Idade Clássica, recebendo extensiva influência da cultura fenicia e religião caananita e participando das rotas comerciais emergentes, no mediterrâneo ocidental.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Germânicos I

R1b Brasileiro

O Mito da Pureza Racial